5 razões para não temer a tradução automática

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A tradução automática assistida por computadores e novas tecnologias é hoje uma realidade ao alcance do público em geral: os principais motores de busca na internet põem ao dispor dos seus utilizadores ferramentas que traduzem textos automaticamente, com resultados de sucesso muito variável; ao mesmo tempo, o cruzamento da informática com a linguística resultou na criação de várias aplicações que combinam o processamento de texto com a machine translation.

Nas últimas duas décadas a evolução destas tecnologias acelerou bastante, chegando até a levantar receios sobre a própria sobrevivência da tradução enquanto atividade profissional. No entanto, a verdade é que, nos dias que correm, a tradução automática não substituiu a tradução humana. E existem várias razões para isso:

1. A linguagem é subjetiva
As tecnologias de tradução automática baseiam-se em algoritmos e inteligência artificial (IA) mais adequadas a situações baseadas em realidades objetivas. No entanto, as línguas naturais desenvolvidas pelos seres humanos funcionam muitas vezes de acordo com a subjetividade e a interpretação de diferentes situações. Cada idioma é único para um lugar e sua cultura, o que aumenta sua complexidade.
As aplicações de tradução automática ainda não têm recursos para detetar o conteúdo emocional de uma frase, referências culturais, nuances de tom, sotaque e estilo, etc. Atuam forma rápida, eficiente e metódica no que respeita a regras estritas de gramática e significados diretos de palavras e expressões trazendo várias vantagens ao fluxo de trabalho do tradutor. Por outro lado, a linguagem no mundo real é mais fluída e os tradutores humanos têm aptidão natural para interpretar com precisão os meandros da língua, da cultura e do contexto.

2. A linguagem está em constante evolução
As línguas evoluem continuamente, incorporando ideias que não existiam previamente à medida que as linguagens evoluem. Uma palavra ou expressão idiomática pode adquirir um significado totalmente diferente ao longo 20 ou 30 anos, por vezes até em períodos de tempo mais curtos. Para além do vocabulário, com o passar das décadas e séculos a própria sintaxe e estrutura gramatical de um idioma podem sofrer alterações – uma análise histórica de qualquer língua revelará a alterações de sinais de pontuação, mudanças na utilização de sufixos, surgimento de contrações e abreviações de palavras, etc.
Os tradutores humanos são mais conscientes destas mudanças e do seu histórico e adaptam-se a elas,  enquanto as “máquinas” necessitam de ser atualizadas e programadas para incorporar estas alterações.

3. Não existem sistemas universais de tradução automática
Um sistema global de tradução automática que possa servir todo o mundo é algo que atualmente ainda está no domínio da ficção científica. Existem milhares de idiomas em todo o planeta. Embora já exista tradução automática para centenas de línguas, ainda há muito património cultural e linguístico por cobrir. Além disso, as diferenças de estrutura semântica e gramatical entre os idiomas são por vezes tão profundas (impossibilitando por vezes a correspondência direta entre palavras e expressões) que depressa se chega à conclusão que a tradução não pode dispensar a interpretação e mediação humanas.

4. A Tradução Automática é hoje um aliado dos tradutores humanos
Os desenvolvimentos recentes nas tecnologias linguísticas e de tradução automática vieram demonstrar que o pânico de uma “invasão das máquinas” não era justificado. De acordo com uma análise publicada em 2017 pela revista de tecnologia Wired, a inteligência artificial, tecnologias de redes neuronais e algoritmos de análise de dados acabam em muitos casos por aumentar a produtividade dos tradutores – isto porque apesar de nunca substituírem por completo o tradutor humano, estas ferramentas automatizam vários processos linguísticos e de escrita, evitando muitos passos repetitivos. Através da pós-edição dos materiais gerados pela tradução automática, os tradutores acabam por produzir mais dentro do mesmo período de trabalho.

5. A tradução automática nem sempre é a solução mais indicada
As ferramentas de tradução automática são muito úteis quando se trabalha com manuais técnicos, interfaces de software e aplicações, páginas de web, ou qualquer suporte com informação concisa, com uma lógica estruturada e com frequente reutilização ou repetição de conteúdos.
No entanto, a maioria dos textos baseia-se num uso fluido e até criativo da linguagem. A tradução automática não possui a capacidade humana de avaliar normas sociais e contexto cultural (que também estão em constante mudança) nem os objetivos específicos de um texto.
Esta questão põe-se não só no domínio das artes, literatura e poesia, como também noutros tipos de textos técnicos e de âmbito profissional: a publicidade, o marketing e o turismo dependem da criatividade e espontaneidade no uso da língua; a medicina, as engenharias e a informática fervilham constantemente com novas ideias e expressões; por fim, em áreas como o direito ou a comunicação institucional (por exemplo, em organizações internacionais, governos ou em contexto diplomático), os textos a traduzir abordam temas demasiado complexos para serem deixados a cargo de algoritmos e sem intervenção humana.