Da Tradução para a Interpretação
Apesar de muitos pontos em comum, a verdade é que a tradução e a interpretação exigem capacidades distintas e as atividades desenrolam-se em condições muito diferentes. Assim, passar da tradução de documentos para a interpretação simultânea requer alguns ajustes e o aprofundamento de algumas capacidades.
1 Conhecer as diferenças entre meios de comunicação
A interpretação lida com a linguagem falada em tempo real. Ocorre face a face, no local, via telefone ou por transmissão de áudio e/ou vídeo. Um(a) intérprete confronta-se quase sempre com a falta de texto pré-definido e com a imprevisibilidade. A tradução escrita, por outro lado, pode acontecer em qualquer momento após a mensagem ter sido criada: mesmo nos prazos mais apertados existe espaço para a pesquisa, reflexão, releitura da mensagem e revisões.
2 Manter a prática da conversação
É fácil um(a) tradutor(a) “prender-se” demasiado à forma escrita da língua em que se especializou e descurar a conversação verbal – é importante fomentar situações de conversação com falantes nativos do idioma e ter contacto permanente com a forma verbal da língua (vendo filmes e canais de notícias ou escutando rádio e podcasts, por exemplo) para manter a fluência, pronúncia e naturalidade.
3 Desenvolver capacidade de improvisação
Um(a) tradutor(a) possui a vantagem do tempo e a possibilidade de pesquisar definições e construir um glossário; por outro lado, um(a) intérprete não tem esse luxo, tendo muitas vezes que lidar com intervenções inesperadas e abreviar ou reformular frases sem que se perca o intuito do orador. Por outras palavras, tem que ser capaz de improvisar soluções rápidas que não quebrem nem o ritmo nem o contudo da conversa – e ter segurança nas soluções que encontra!
4 Trabalhar em dois sentidos
Nem sempre os intérpretes são chamados a fazer tradução simultânea de um único orador (por exemplo, num discurso, palestra ou aula): muitas vezes, são confrontados com debates ou conversas com dois ou mais intervenientes. Isto exige que o(a) intérprete seja extremamente fluente tanto na língua “de partida” como na língua “de chegada”.
5 Traduzir a linguagem verbal… e a não-verbal
Para além das expressões idiomáticas, metáforas, analogias e terminologia técnica, que já de si são desafios para qualquer tradutor os intérpretes devem também ser capazes de interpretar e reproduzir as características da comunicação verbal em direto que, na verdade, não são puramente verbais: o tom de voz, as interjeições, as inflexões particulares e ênfases dados a certas frases – tudo isto são características específicas da comunicação não-escrita que também devem ser transmitidas ao público-alvo.